20 de mar. de 2010

Esse texto foi encontrado num baú cheio de teia de aranha, escrito há algum tempo atrás e ainda nos dias de hoje condiz com alguns pensamentos do Bruxo.


Por mais que magias e consistências físicas cercam nosso redor exterior e interior a Fé faz com que tenhamos indubitável discernimento de aceitar ou não a índole de pessoas estranhas ou conhecidas, novas, senhores e senhoras, amigos e amigas, amores e paixões

Mais calejado que as mãos que escrevem esse texto, está esse coração, tão sofrido de pancadas e chutes chegando ao ponto de se perder a Fé em quase tudo.

Hoje, a única presença calorosa que encontra-se dentro do peito é essa vela acesa nessa noite caótica, fresca, silenciosa e estrelada, igual semanas atrás e apenas com esse pedaço de papel e uma caneta esferográfica azul, segurada de maneira tão simples e frágil mas rabiscando de forma deveras agressiva.

A Fé, que sempre foi a maior companheira e moradora desses muros sentimentalóides, vai-se embora devagarzinho pois cada ano, mês e dia que se passa encontra menos compaixão espiritual, mais arrogância e orgulho e muito mais silêncio alheio. A Fé, que geralmente era o que movia pensamento e pensador, abandonou esse peito porque não encontra mais consciência de amigos, inimigos, amores e pessoas simples e muitas vezes Dele mesmo depois de levar pessoas tão queridas, sem motivos e totalmente de forma injusta.

O corpo tenta não aceitar isso. Tenta manter a Fé dentro dele e cada vez mais se sente cansado mentalmente mesmo mantendo-se disposto fisicamente.

Mas o mundo é feito de injustiça através de pessoas e perguntas graças as suas consciências. As perguntas são o que movem o mundo, e não as respostas. Devido a isso, a Fé teve mais um motivo para abandonar esse mero corpo que um dia gostou de alguém, novamente, de forma incontestável, mas para variar a decepção mergulhou de cabeça nessa piscina sentimental, a mesma piscina que sempre teve espaço para apenas uma pessoa. Aí pergunta-se: Vale a pena? Será que tudo isso é tudo isso? Será que tem correção ou será tudo plágio?

Sim, pessoas plagiam as outras constantemente. As vezes de propósito, as vezes sem querer, mas no fundo somos todos iguais. Todos somos macacos. A Fé, que sabia disso tudo e ignorou desde o início, resolveu dar a cara a tapa e finalmente se importou.

Nem a Rosa que aflorava constantemente esse coração salvou sua persistência. O carnal fala mais alto e o coração fala mais baixo. A Fé tentava dar outros olhos ao coração, mas não tinha como enganar o óbvio.

E a Fé, devagarzinho, foi embora, esvairindo-se desses dedos cansados, desses olhos de vidro muitas vezes marejados, mas jamais foi embora pelas cordas vocais ou neurônios, pelo contrário.

Foi-se embora por todos os pelos e poros. Por pensamentos e instintos e muitas vezes por dores físicas e mentais. Não quis saber. Sem se despedir abandonou esse mero corpo, não frágil fisicamente, mas delicado em relação a outros corpos, irremediavelmente. A Fé deixou tudo isso à francesa, de forma elegante e com total consciência tranqüila, porque sabe que tentou, acreditou, insistiu e lutou. Deixou o corpo ser destruído. O mesmo vendo cada vez menos a deliciosa brancura e pureza dos sonhos, esses cada vez mais longos e intermináveis ao invés de tentar ver a pureza das pessoas. A Fé não queria ser destruída como o corpo está sendo. Preferiu desistir.

Finalmente ela foi embora. A Fé me abandonou.

Finalmente a Fé desistiu.