21 de mar. de 2009

Abençoado Outono!

Finalmente, desligaram o forno.

Todos falam que apenas brasileiro gosta de calor. Isso é uma grande bobagem. Na verdade quase todos os seres-humanos adoram tempo quente, aberto, sem chuva. Vi isso na Europa. Com exceção do tiozinho aqui, que não abre mão de um tempo ameno, cinzento, friozinho, garoando. Não é a toa que o bruxo sempre vem a tona nessa época do ano. Finalmente posso exibir minha pele branca opaca, andar de calça, não fugir mais do sol e usar menos óculos-escuro.

Sim Juvenal. Sei que sou bem estranho, mas convenhamos, o Verão deixa as pessoas fora de si. Porque cargas d´agua as pessoas ficam mais eufóricas, empolgadas, vagabundas e misteriosamente, inventam desculpas pra tudo deixando tudo pra amanhã?

Vai saber.

O Outono não é uma simples estação. É o enceramento do ano anterior. Aquele êxtase de Natal, final do ano e carnaval literalmente encerra-se. Finalmente o ano começa de verdade. As pessoas se concentram mais, levam os assuntos, por mais medíocres que sejam, mais a sério e trabalham mais, por mais estranho que seja.

Sou careta. Disso ja me conformei. Quanto mais escrevo essas maluquices aqui nessa brochura virtual, mais as pessoas se afastam. Teve um trio que chegou a não só me chamar, mas me julgar de doido. Adorei.

Continuando nesse rítmo separo bem as águas que me cercam. Chega de água salgada. Sou marinheiro de água doce mesmo e com orgulho. Tudo devido ao Outono.

O que mais adoro no Outono nem é tudo isso que acabei de escrever a pouco, e sim o fato das pessoas começarem a agir normalmente. Quase todos deixam sua origem símia em casa, seu instinto animal diminui gradativamente e os hormônios dão lugar a pensamentos de possíveis consequências pós-mera-casualidade.

Dessa forma, machuca-se menos gente.

Mas apenas no Outono.


15 de mar. de 2009

A sensibilidade da Vida

E ele continuou ali, parado.

A chuva continuava a cair em seu capecete. Segurando seu fuzil, sentia os braços pesados e cansados devido ao peso. Seus dedos pareciam enferrujados. Doíam constantemente. As vestes molhadas contribuiam para que esse cansaço aumentasse, deixando seu uniforme mais pesado.

Suas pernas apenas rastejaram seu corpo para aquela trincheira, tão imóveis, estáteis e até certo ponto, trêmulas.

Seus pensamentos o abandonaram, fazendo com que sua mente apenas se concentrasse nas balas que vinham em sua direçao, no suposto inimigo que o odiava.

Enterrou seu rosto na terra. Zunidos de tiros raspavam seu capacete sendo utilizado apenas para ouvir-se o tilintar das gotas pesadas.

Era noite. Não via-se um palmo a sua frente. Via-se apenas raios amarelos cruzando as trincheiras, de um lado a outro. Alguns eram certeiros, outros tinham o destino de Deus de errar homens. Seus companheiros estavam ao seu lado, gritando e berrando sem parar, chamando seu nome em vão.

Não conseguia distinguir uma voz.

Não conseguia distinguir uma palavra.

Não conseguia distinguir tudo aquilo.

E pensou: "Afinal, porque eles são meus inimigos?".

Mesmo assim, no meio de tantos gritos, berros e tiros, ouviu a ordem de seu sargento para avançar.

Hesitou por milésimos de segundos. Sua vida passou toda em sua cabeça. Sentiu a vida pulsar em apenas uma decisão, sensível como um fio de seda entregue nas mãos do destino. Viu seus companheiros avançando. Estava tudo escuro. Ninguem via ninguém.

E avançou quase em seguida. Podia sentir as balas raspando em seu uniforme. Podia ouvir alguns amigos, com quem aprendeu a a conviver durante anos, caindo ao seu lado, esparramados. Na corrida pela vida, olhou para seu lado esquerdo e via vultos de homens correndo desesperadamente, alguns continuando, outros caindo aos poucos, mas todos tentando.

Lá, ele era apenas número. "Um terço do pelotão morre no caminho em um ataque como este, Em compensação, o inimigo jamais espera tamanha loucura." dizia um amigo dele numa conversa de bar.

Suas pernas tinham vida própria e seus olhos enxergaram coisas que jamais enxergariam em situações normais. Após pular a trincheira inimiga, miraculosamente não encontrou nenhum soldado para lhe atacar.

Pegos de suspresa, todos estavam sendo massacrados pelos seus amigos. Após não conseguir ver bem quase nada, podia muito bem ver alguns de seus amigos atacarem com a ponta de suas baionetas ou dando tiros a queima roupa.

Podia muito bem sentir a dança da morte, tão perto da sua alma.

E sem apertar o gatilho, ouvindo o desespero de homens sendo mortos, deixou cair seu corpo debaixo de uma árvore e sentiu a sensibilidade da vida.

Seus lábios começaram a ficar trêmulos. Lágrimas escorriam de seus olhos cansados, inertes e vazios.

E chorou.

Em prantos com as mãos no rosto igual a uma criança, chorou.

10 de mar. de 2009

Depois de uma volta ao Sol.

Exato 1 ano atrás comecei a fazer esse brog. Até hoje me pergunto como consegui manter o mesmo. As vezes cansa, as vezes não tenho inspiração e as vezes confesso que essa brochura atrapalha e sei por intuição e rastros deixados que essa brochura causa fofoca.

Mesmo assim dou a mínima.

Fato é que mensagens telepáticas virtuais de vez em quando chegam aos meus olhos e, pásmem, ouvidos, como se me importasse quem fala de quem ou aquele fulano acessa seu blog.

Para felicidade de poucos e infelicidade de muitos, continuarei postando. Sem rítmo certo, sem prazos ou regras. Será no rítmo da metamorfose ambulante.

Todas as pessoas no mundo cansam, até o bruxo. Quem sabe ele queira trocar a brochura por outra coisa?

Quem sabe.


4 de mar. de 2009

Decisões

Há um ano atrás, fiz coisas que até Deus duvida.

Nem meus pais acreditaram de inicio quando contei.

Tomei decisões que não deveriam ter sido tomadas.

Há um ano atrás coincidentemente abri portas com pessoas inacreditáveis.

Dessas, poucas mantiveram contato.

Dessas, raras eu mantenho amizade.

Há um ano atrás fechei janelas com mais um tunhado de pessoas, que me dói no peito só de imaginar.

Devido ao acontecimento citado por mim anteriormente.

Hoje, estou tomando uma decisão que pode mudar totalmente o rumo da minha vida e, dependendo, de mais pessoas.

Mas são essas decisões que fazem a vida ter graça.

Melhor se arrepender tentanto do que esperar a morte chegar.